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OPINIÃO: Parece que estamos a jogar fora a construção do futuro melhor

Em duas oportunidades anteriores, usei a metáfora de um pesquisador social europeu no final da década de 80 a respeito dos brasileiros: "a impressão que a gente tem é de que vocês irão se suicidar coletivamente no Atlântico".

Noutra ocasião, lembrei aqui de uma constatação atribuída ao general Golbery do Couto e Silva: a de que o Brasil vive ciclos de sístoles e diástoles, isto é, faz movimentos pendulares de um extremo ao outro. No caso, referia-se a períodos de centralização e descentralização. Contrai ou centraliza de forma exagerada e se arrepende; descontrai ou descentraliza de maneira exacerbada e, arrependido, retorna e assim por diante, sem conseguir uma solução equilibrada. Essas duas tendências dos brasileiros estão muito presentes hoje e me angustiam sobre os próximos tempos.

O comportamento coletivo suicida ou de autoflagelação nacional já teve episódio marcante em maio e junho deste ano, quando boa parte da sociedade apoiou de forma desvairada a greve dos caminhoneiros e buscou transformar episódio de reivindicações de categoria profissional em fenômeno político e social generalizado, uma tentativa de fazer o circo pegar fogo com ele - brasileiro comum, consumidor, trabalhador, empresário - dentro, como referi neste espaço na edição de 2 de junho.

O resultado está aí: a economia e o emprego, que vinham apresentando sinais de melhora, retroagiram ou atrasaram a recuperação, todos sofreram consequências que se alongam até hoje porque não se para impunemente a circulação de pessoas e bens em um país. Mas, a lição não foi entendida e boa parte da sociedade brasileira parece encantada com a possibilidade do pior, quer sofrer, autopunir- -se e retroagir, julga-se incapaz de ir adiante, de evoluir, no antigo e resistente complexo de inferioridade ou de colonizado. Vai ao sabor do efeito manada rumo ao precipício. E a tendência ao movimento pendular?

A opinião pública brasileira oscila freneticamente entre extremos, sem busca de pontos de equilíbrio. O pêndulo está maluco, aumentou a velocidade de ida e vinda entre os polos, sem que se divise qualquer tendência de estabilização equilibrada. Estamos diante de uma oportunidade histórica de assentar fundamentos para um período de progresso, mas também de harmonia e de decisões ponderadas. Afinal, o poder que "emana do povo" nas democracias está convocado a se manifestar e delegar sua soberania a poderes com membros escolhidos pelo sufrágio dos cidadãos eleitores. Todavia, não vejo que as grandes questões, as instituições e políticas que almejamos estejam priorizadas na agenda da opinião pública.

É apenas um choque de emoções, radicalismo de ódios, conflito de exageros, acerto de contas de fatos passados. É assim que construiremos os alicerces do nosso futuro como nação? Estamos, coletiva e irresponsavelmente, brincando de roleta-russa. Não se diga, em algum momento do porvir árido, que o desastre não era previsível.

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